domingo, 28 de novembro de 2010

Montículo de Montoeira

Sim, eu tenho anseios,
que gritam o medo
que a garganta seca.
E já não me descem à guela
as coisas que experimentei do céu
Descri dos cheiros e gostos
Odores
Dos feios e rotos
Amores.

Por entre os pés
se perdem minhas querências:
por olhares que se esquecem os perdidos.

(Enlua a noite derme
descalça em suaves pés
que bolem as raízes terra
em brisas de hortelã).

Sim, são sonhos
que se debruçam
sobre nuvens de amnésia
e por entre os algodões esvaídos
estão distantes os contornos
de minhas verdades.
Sim . Essas verdades
que me amordaçam:
O silêncio...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Esfumar

Calora o sal, a pele,
o suor mofando a cara.
O riso engasga à boca
no sereno sem gosto de céu.

Sim. Sou eu:
Espectro em veludo sem casca,
Desnudo, enxuto,
Libido sem saliva.

...e o corpo cuspido
nasceu efêmero
Embrasado.
Encaroçado.

Na saudade ruga:
o veneno, a cicuta.
Em pequenos pedaços de papel:
Delírios. Éter. Fuga.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ai se sesse

Ao Ópio, com carinho.

Do mundo,
Só conheço o meu
e para tanto, na aventura de ser pouco,
me expando a enclinar
sobre as manhãs.
Sob o ar gelado
que o vento exalta,
envaideço-me num ópio...
Que me derrete a cara: um sorriso
deixando um silêncio vago
no então, talvez
de abraços partidos.
E eu que me tinha
sido sóbrio na poeira
dos momentos breves,
parafraseio a chuva
por entre as pedras
do chão que se pisa.
Então espero:
Pela embiaguez que nos
mistura ao vento.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ABSINTO-ME

Há muito não me sinto
Apenas absinto,
então abstraio minha parte inteira
que não me quis oculto.

Há muito não me quis ser,
então esvai-me
ao enquanto de um vácuo imóvel

Então findei-me
em sonho cru
e perdi-me na inércia suave
de um beijo no rosto. Engano!

sábado, 6 de novembro de 2010

Apenas sobre o HAITI

...São apenas flores mortas
se debruçando nos vitrais...

...É apenas o chão trêmulo
saracuteando sobre os órfãos
dos filhos sem pais...
(sem paz, sem país)

...É apenas o caos
com medo do medo...

São apenas os trapos,
as raspas, os restos e
os homens de olhos cheios.

É apenas sobre o HAITI.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Eu, para sempre Tudo!

Eu sou
o prazer contido
na lágrima da menina
possuída à força.

Eu sou
a coragem
que promete
o paraíso ao suicida.

Eu sou
a clausura
dos que têm medo
de enfrentar a derrota.

Eu sou
a raiva domesticada
da mulher
que apanha calada.

Eu sou
a vergonha
da prostituta
assediada por seu pai.

Eu sou
o homem
 que perdeu a esperança
no boteco da esquina.

Eu sou
o pranto desconsolado
da mãe
do filho drogado.

Eu sou
a carência
o distúrbio, a doença,
o egoísmo, a violência.

Eu sou
o Tudo
em seus dias
de Nada.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Saudade pueril

Badala em meus ouvidos
O sino da minha saudade pueril.
Sinto fome do tempo
em que me esvaia em inocência

Corro até onde me permitem
os pulmões de fumante
e não consigo me lembrar
onde parei em minha decadência.

Saudade pueril:
Onde em meu sonho grita.
(um torpe vazio surge).

Pois o mundo agora é roto
e o céu  pesa diferente
A terra molhada tem cheiro bruto
e a brisa nasce morta.

E em um lapso de tédio
permito-me sentar ao relento
e olhar sem culpa
a falsa infância que perdura ainda.