quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Descolorindo

Tudo em volta se descolorindo,
perdendo a suavidade.
Como tem sido noite por aqui!
- Mas é aqui...
- Aqui dentro...
dentro das reticências diárias
dentro do corpo envolto em pele,
uma pele áspera
como uma calça suja.
É isso!
- Uma calça, de pano azul, suja!
Tudo se descolorindo ao tom
das palavras breves,
da brevidade da cachaça ardida
queimando a garganta suavemente,
aquecendo a pele pra depois arrepiar.
Tá tudo dentro de mim
como um grande enterro
à luz de velas.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Inacabada

Lá vem ela,
a moça que passa.
E passa sem deixar perfume.
É um cheiro tão ausente,
parece que acabou de nascer
espantando dela o medo
de sentir o falso cheiro
de pureza do mundo.

E o cheiro de botequim?
Parece cheiro inacabado.
Cheio de metades e cerveja barata*
gente barata e de cor abstrata.
De repente, gargalham.
Desesperadamente!
Estão envenenadas,
e se entreolham.
e não entendem
a despedida, ida
de quem foi e
se perdeu na ausência
inacabada das cores de Agosto.
(é um olor despudorado e seminu,
parece que tem asa e envaidece).

O cheiro das moças, em Agosto,
é diferente, tem calor!

E o cheiro de botequim?
- parece cheiro inacabado!


                 *referente ao trecho da poesia de Dani Santos "solilóquio ou tanto faz, mas com gelo ou limão"
                          http://poemices.blogspot.com.br/2010/12/soliloquio-ou-tanto-faz-mas-com-gelo-e.html

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Não há de ser nada...

Não há de ser nada
e o que há, haverá de ser consolo.
Merda de consolo!

flores, alcaloides, stress,
bipolaridade, medo, abandono,
bullying, pedofilia, pederastia,
compreensão,corrupção, verniz social,
politicamente correto, altismo,
fome, sede, magreza, raquitismo,
anorexia, bulimia, anorexia alcoólica, bulimia alcoólica induzida,
vômito, mais mais mais...
insônia, transtorno do sono, transtornos,
polícia, política, frango, faisão, genética,
vida em marte, sem vida em marte
água em marte, sem água em marte
geleiras, sem geleiras, aquecimento,
bio isso eco aquilo
Quem sabe...
TPM, TOC, AVC, EQM
deus quis assim!
só ele sabe a hora!
escreve certo por linha tortas!

Não há de ser nada
e o que há, haverá de ser consolo.
Consolo Social


quinta-feira, 21 de junho de 2012

É sobre o tempo


A luz se esvaindo
caprichosamente...
Enquanto ela morde os lábios,
eu espero, e fumo...
Não! Não fumo mais.
Nossa! é tudo tão rápido
austero, inexequível.
O tempo.
Esqueci-me o relógio
Os ponteiros. A bateria.
Ela morde os lábios...
Um cigarro. Não!
Não fumo mais.
Só mesmo o tempo
e ela, a parte mais breve do orvalho.
e a boca sem saliva. 
Nossa!
foi tudo tão premeditado.
Os discos, os papéis de cigarro,
a sede mesmo tendo cachaça.
Nossa!
Foi tudo tão efêmero,
que até o tempo morrera  na ponta do orvalho
ilimitável e sozinho.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Entre Frestas e Arestas

A manhã de hoje
nasceu num acordar:
Breve e pintada em azul!

Coincidentemente, junto ao dia,
ela acordara, espreguiçara e
erguera seus pensamentos para
além da cabeceira da cama
e constrangera-se, sozinha,
ao perceber que não sonhara.
Ou apenas esquecera de sonhar?
Abstraíra a consciência do que era,
pois, já não mais era.
Debochara-se
E salientemente, esboçara sorrir.

" O silêncio é tão maior que a vida!"
e enchera-se de solidão e saudade.

O quarto ainda escuro
amadurecia a ideia de dia,
e se clareava preguiçosamente.
A brisa leve e prematura,
sussurrava às frestas da janela
um porvir,
quase que sem esperança:
Nesta manhã
ela deixará  pra trás
seus dias pequenos,
deixará para trás
seus amores por vaidade do amor,
deixará para trás
tudo que é oco, roto e sem cheiro.

Ela acordara, momentos atrás,
coincidentemente junto ao dia,
que ela não viu nascer,
pois, foi breve e pintado em azul!

sábado, 17 de março de 2012

Dominical II *

Um dia , antes da chuva
espalhei lírios pelo chão da casa,
acendi velas pros santos de gesso,
enchi de água e de respeito a quartinha de exú.
Saudei-os. Rezei velhas cantigas, Benzi-me.
Tudo isso, num dia, antes da chuva.

Cortei as unhas, me cortei fazendo barba
(nada demais),
perfumei a cicatriz de outrora,
com cheiro de madeiras e âmbar,
debrucei sobre a janela
um silêncio poetizado ao sol,
tão fundo,
respirei ao leito, minhas preces,
tão poucas, aos santos moucos

tudo isso, num dia, antes da chuva

Deixei o vento invadir minha saudade,
desde o cigarro aceso ao abajour aceso,
nossas roupas limpas secando à sombra,
da cama em desalinho ao cabelo desgrenhado
do pulso cortado ao porvir descalço
antes da chuva, num dia só, tudo isso.

Os olhos semi-cerrados, miudinhos
fingindo não ver, do outro lado da rua
alguém sentado embaixo da amendoeira
contando nos dedos seus dias de sol,
ou mesmo, fingindo não ver
a pessoa que pára, lê a matéria e não compra o jornal.

Da varanda, antes da chuva,
vendo a vida tão postiça,
lembro dos santos de gesso,
de minhas preces poucas
quando eu ainda não me era
ou quando nem sei se fui
ou de quando em vez pensava ser.

Isso era domingo, antes da chuva!


                                                                   

                                                                              * referência ao texto Dominical de Dani Santos
                                                                              http://poemices.blogspot.com.br/

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Entre o ronco e a chuva!

Quando chove e ronca trovoada
mamãe diz que é papai do céu,
em cima da nuvens
arrastando os móveis. Tá dando faxina!

Mas, quando chove,
e cai um relâmpago...
Isso é só relâmpago mesmo,
não tem outro nome ou encantamento.

O que sei da verdade
vem do cheiro da terra da tarde molhada
da saudade do cheiro
da criançada suja de barro
esperando o macio alaranjado
do pôr-do-sol
entre chuvas de tanajura
e bolhas de sabão no cabo da mamona.

O que sei da verdade
vem do medo do tempo
Medo de não tentar mais as nuvens,
enquanto corria de braços abertos
imitando avião!
Medo do balanço
enferrujar embaixo da mangueira, sozinho!
Apenas com o silêncio do vento
O assovio silencioso do vento...

Meu medo não vem do ronco da trovoada
ou relâmpago sem outro nome,
Meu medo!
Meu medo é de subir no alto da cerca
e não ver mais a vida, que tá tão lá fora...
Que tá tão do lado de fora!