sábado, 30 de julho de 2011

Lá estão eles, sob o gozo e as marquises

Lá estão eles, paridos do artífice concreto
ao barato às esquinas
se consumindo aos montes
se bulindo aos montes
se bocejando ao mesmo ar.

Poeira, pólvora
mãos em vãos destinos
Ruas a janelas
a se promiscuizar em falsidade ideológica.

Um dia perguntei
se ninguém se incomodava
com as semividas
que se deliravam às marquises.

me sorriram miúdo
me olharam vendidos
me poetizaram
me disseram "não".

então o dia finda
morre esvai se cala
eu me calo me esvaio
me findo deito.

e do alto me masturbo
sob muriçocas saúvas
abastados abolidos
narcisos gente.

e me gozo
um entristecer pálido
vil mesquinho lambuzado
tímido satisfeito.

-Noite leve pra ti ó moço!

enquanto nitidamente
lá estão eles
a se consumir se bulir
se bocejar nas esquinas de um real

e eu no quarto semigozo
e eles nas esquinas semivida.

3 comentários:

  1. Olá Francisco!

    "me sorriram miúdo
    me olharam vendidos
    me poetizaram
    me disseram "não"."

    E se me tomam por louco, essa era a palavra que me faltava.

    "Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão... sem querer eles me deram a as chaves que abrem essa prisão"

    Se vivemos em cárcere, que conheçamos então todas as selas da cadeia.

    Fantástico. É uma das poesias mais fortes que já li por aqui, e por outros lugares também.

    Abraço!

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  2. Caro Francisco, caro mesmo.
    estão aí no poema as vísceras da realidade, da realidade contida nos olhos do eu lirico do teu poema, uma força brutal, de qualidade sublime!

    este é um poema para gozar ao ar livre ou sob a alcova de atitudes vãs.

    grande abraço para o vate urbano

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  3. enquanto nós nos poetizamos, nos anestesiamos em longos goles de cerveja ácida, enquanto farreamos na mesa farta, enquanto copulamos humanamente dóceis,voláteis, eles estão lá, ali... bem ali.ao alcance das mãos e não. porque mesmo os vendo, não os vemos. mesmo tropeçando neles, não os sentimos. mesmo respirando-os, não tocamos seus cheiros fortes. o que nos distancia, o que separa, esse "nós" do "eles", é a negação.

    Tuas palavras ficam escorrendo nas calçadas amargas.

    e uma nova noite leve pra ti, ó moço!

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