sábado, 16 de abril de 2011

Agora: o dizer do silêncio

Agora sei dizer o silêncio
e sei sorver a periclitancia da angustia,
mas, devo insinuar
que o que me move é o sentido
gosto da terra
Debulhar o trigo
e copular ao sexo,
no sabor dançante
que a terra uiva.

Vão indo as notas musicais
a violar meus celestinos, marias
e morte severinas
ao labor que a mão se cansa
 - tenho as mãos sujas!
E quando o ardor transbordar
a poeira azular,
que a chama em transe respira,

vai à pequenez, nossa de cada dia
a se perder no assovio verde olhar
dum rosto magro
que a morte ronda.

Eu tenho pensado na terra,
no sexo, nas macumbas,
na nódua que se escorre aos poros,
no cheiro de goiaba*
e no coração amarelo*

Agora sei dizer o silêncio
e sei engolir em silêncio
a tosse ardida da cachaça.


                                                                           *cheiro de goiaba-gabriel garcia marquez
                                                                           *coração amarelo-pablo neruda

2 comentários:

  1. Oi Francisco, adorei o blog. Estou te seguindo. Seguindo esses posts maravilhosos! Um abraço!

    ResponderExcluir
  2. reentrâncias... as notas partidas rumo ao fundo que a terra enseja. rumo ao mais fundo de nós que tambem somos terra, e fé, e corpo, e tarde. todos esses silêncios amargos e gostos do que a vida é crua. tempos de percorrer, arrancar as raízes, escorrer. caminhos fecundantes.
    e tuas palavras cada vez mais nuas.

    beijos.

    ResponderExcluir